Você já ouviu falar sobre farmacomicrobioma?
Após robustas pesquisas científicas realizadas nos últimos anos, a microbiota (flora intestinal) passou a ser considerada um “novo” órgão a ser explorado, tanto em organismos saudáveis quanto em pessoas doentes. A microbiota se conecta diretamente com nosso sistema imunológico, razão pela qual os microrganismos que a compõem têm relação com a maioria das doenças.
O intestino humano hospeda uma infinidade de bactérias e micróbios, o que forma um verdadeiro ecossistema dentro do nosso corpo. A quantidade desses micro habitantes varia em cada pessoa, o que faz com que cada flora intestinal seja exclusiva de cada indivíduo.
Inúmeros fatores influenciam diretamente na composição da nossa flora intestinal, e isso começa desde o período intrauterino. Essas interferências podem ser internas (fatores genéticos) ou externas (fatores dietéticos, estilo de vida, exposição a metais pesados e medicações) e interagem ininterruptamente entre si, fazendo com que a microbiota se altere de maneira extremamente dinâmica.
Dentre as interferências externas está o uso de medicamentos!
A influência que as medicações exercem na composição da nossa flora intestinal (e vice-versa) é chamada de “farmacomicrobioma”, termo empregado pela primeira vez em 2012.
O tema tem especial importância na Medicina Personalizada justamente por reconhecermos e respeitarmos a individualidade de cada paciente. Sabemos que a resposta à determinada droga/medicação (tanto quanto aos efeitos terapêuticos quanto à eventual toxicidade) varia de acordo com o organismo de cada paciente.
Dentro do tema, um dos assuntos mais estudados e comprovados são os efeitos colaterais na flora intestinal provocados pelo uso de antibióticos (chamamos o desequilíbrio de “disbiose”). Este distúrbio pode aumentar a susceptibilidade a infecções, comprometer a homeostase do sistema imunológico, gerar desregulação metabólica e colaborar para a obesidade 2.
E não são apenas as alterações na flora intestinal que preocupam. Um estudo publicado em 2001 traz números alarmantes: estima-se que aproximadamente METADE dos pacientes não apresentam NENHUM BENEFÍCIO na utilização de uma determinada droga!
Além disso, foi evidenciado que muitos pacientes sofrerão algum tipo de efeito colateral pelo uso de alguma droga. Outro paper apresenta o dado em números: aproximadamente 3,5% das INTERNAÇÕES HOSPITALARES na Europa são resultado de alguma REAÇÃO ADVERSA provocada pelo uso de medicamentos.
Um artigo ainda mais alarmante foi publicado em 2013, o qual estimou que 100.000 pessoas MORREM TODOS OS ANOS nos Estados Unidos devido a algum tipo de reação adversa causada pelo uso de medicações/drogas.
Trouxemos apenas algumas das evidências científicas publicadas. Existe vasto e robusto material demonstrando ser inequívoco o risco inerente ao uso indiscriminado de medicações. Baseando-se nisso é importante ressaltar a imprescindibilidade de considerar a exclusividade de cada organismo. A individualidade de resposta às drogas pode não só afetar o bem estar do paciente, mas pior, colocar sua vida em risco!
Fica evidente o destaque ocupado pela FARMACOMICROBIOMA no cenário científico. A consideração da identidade de cada microbioma, bem como as interações sofridas entre os microrganismos que o compõem já é uma realidade no campo da Medicina Personalizada. Respeitamos isso e, assim, buscamos com mais precisão a medicação ideal, na dose ideal, para a pessoa ideal, mitigando os efeitos colaterais e maximizando os efeitos terapêuticos dos tratamentos.
Referências:
1. Saad R, Rizkallah MR, Aziz RK. Gut Pharmacomicrobiomics: the tip of an iceberg of complex interactions between drugs and gut-associated microbes. Gut Pathog. 2012 Nov 30;4(1):16. doi: 10.1186/1757-4749-4-16. PMID: 23194438; PMCID: PMC3529681.
2. Francino MP. Antibiotics and the Human Gut Microbiome: Dysbioses and Accumulation of Resistances. Front Microbiol. 2016 Jan 12;6:1543. doi: 10.3389/fmicb.2015.01543. PMID: 26793178; PMCID: PMC4709861.
3. Spear BB, Heath-Chiozzi M, Huff J. Clinical application of pharmacogenetics. Trends Mol Med. 2001 May;7(5):201-4. doi: 10.1016/s1471-4914(01)01986-4. PMID: 11325631.
4. Bouvy JC, De Bruin ML, Koopmanschap MA. Epidemiology of adverse drug reactions in Europe: a review of recent observational studies. Drug Saf. 2015 May;38(5):437-53. doi: 10.1007/s40264-015-0281-0. PMID: 25822400; PMCID: PMC4412588.
5. Sultana J, Cutroneo P, Trifirò G. Clinical and economic burden of adverse drug reactions. J Pharmacol Pharmacother. 2013 Dec;4(Suppl 1):S73-7. doi: 10.4103/0976-500X.120957. PMID: 24347988; PMCID: PMC3853675.
6. Doestzada M, Vila AV, Zhernakova A, Koonen DPY, Weersma RK, Touw DJ, Kuipers F, Wijmenga C, Fu J. Pharmacomicrobiomics: a novel route towards personalized medicine? Protein Cell. 2018 May;9(5):432-445. doi: 10.1007/s13238-018-0547-2. Epub 2018 Apr 28. PMID: 29705929; PMCID: PMC5960471.
7. Formica D, Sultana J, Cutroneo PM, Lucchesi S, Angelica R, Crisafulli S, Ingrasciotta Y, Salvo F, Spina E, Trifirò G. The economic burden of preventable adverse drug reactions: a systematic review of observational studies. Expert Opin Drug Saf. 2018 Jul;17(7):681-695. doi: 10.1080/14740338.2018.1491547. Epub 2018 Jul 3. PMID: 29952667.